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domingo, 10 de maio de 2015

Alex Ribeiro e o título do Saquarema Pro 2015

10 de Maio de 2015


De quantas rajadas de vento se faz uma tempestade?

    O momento em que vivem os surfistas brasileiros no cenário competitivo mundial é, para além do que se pudesse imaginar há alguns anos, motivo de atenção. A quantidade de resultados obtidos já seria suficiente para abrir os olhos de qualquer um interessado no universo do surf de competição. As etapas conquistadas pelos camaradas nos últimos anos bem como as boas colocações alcançadas pelos nossos nas etapas, seja do Tour, seja da divisão de acesso, corroboram a tese de que estamos diante de um movimento para lá de consistente… Ao aproximarmo-nos do problema, a surpresa apenas se torna mais evidente à medida que se revelam a diversidade de nomes que impulsionam a tempestade… Gabriel, Miguel, Felipe, Adriano, Alejo, Italo, Wigolly, Alex, Caio… Todos com menos de trinta anos, alguns recém saídos dos limites da maioridade legal… O conjunto, visto à distância, ainda aponta para nomes que, ainda esse ano, podem romper o campo gravitacional que os prendem às margens desse grupo… Lá estão David, Ian, Jesse… Para os incautos, é bom um olho no peixe e outro no gato para que, como eu, não sejam surpreendidos com um resultado expressivo de alguém que, até ontem, não figurava nas listas de favoritos ao título dessa ou daquela etapa, desse ou daquele campeonato…
    A tempestade estende-se e amplia a sua circunferência mais rapidamente do que supunha o mais otimistas dos críticos… 2015, muito além do ano que consagrou Gabriel Medina como campeão Mundial, parece ser o espaço escolhido pelos deuses do surf para anunciar ao mundo o nascimento de uma nova potência capaz de rivalizar em pé de igualdade com a América, a Australia e o Havaii… Das cinco etapas mais importantes de 2015, os brasileiros estavam em todas as finais, ganharam quatro títulos e tornaram-se, aos olhos do mundo, uma das nações a ditar o futuro do surf… Mesmo que muitos ressentidos insistam em defender-se na xenofobia ou na ignorância…

A hora e a vez de Alex Ribeiro…

    Descanso e caldo de galinha não faz mal a ninguém, dizia minha vó entre uma gripe e outra… Por isso, eu confesso a minha dificuldade de apontar um surfista como favorito de uma etapa quando ele não traz consigo um acúmulo de quilometragem capaz de inseri-lo no seleto grupo de pleiteantes ao caneco… Bobagem… Bobagem… Se eu tivesse escutado com ouvidos abertos a alguns comentários nos fóruns especializados, se eu estivesse mais atento a linha de Alex Ribeiro…. eu poderia, muito bem, dizer a minha vó: de gripe, a senhora entende…mas… nem tudo, especialmente o surf brasileiro de 2015, pode obedecer aos seus conselhos sem o risco de tropeçar no próprio cadarço…
    O menino da Praia Grande veio para vencer o Saquarema Pro com um surf de borda tão intenso que parecia ter sido criado em algum point break australiano… Base, lip… Base, lip… Entre um movimento e outro, arcos longos…. muito longos… A velocidade de encaixe das manobras, a fluidez nas esquerdas de Itauna foram conduzidas com tamanha maestria e regularidade que, ao passo do campeonato, éramos levados a acreditar que aquele menino, cujo título mais expressivo até aquele momento foi o caneco de uma etapa na Argentina, poderia, de fato, vencer o segundo Prime da temporada… Sim, eu prefiro chamar o 10000 de Prime… Coisa de gente velha, incapaz de atribuir novos nomes para coisas que permanecem iguais…
Alex ganhou no surf e na cabeça a etapa de Saquarema… A última onda da final contra Jeremy, o melhor surfista do campeonato, revela que a escola brasileira tem formado, além de grandes aerealistas, competidores frios e cirúrgicos… O surf de borda, que emenda uma manobra na outra, é outra característica desse menino, quem parece seguir com atenção os passos de Gabriel, Adriano e Felipe…

Um traço da escola brasileira?

    Anos atrás, Charles Medina concedeu uma entrevista em que afirmava ser fã de Mick Fanning justamente porque ele imprimia muita velocidade em seu surf… Ele, talvez por isso, insistia em terminar uma manobra com o anuncio daquela que se seguia… Uma atrás da outra, uma seguida da outra…Dizia o pai do campeão mundial que não importava ganhar, mas, sim, surfar bonito… Surfar bonito era surfar como Mick… Ao contrário de muita gente, entendida e quem respeito a opinião, esse movimento tão característico do australiano não é, para mim, sinônimo de um surf robótico, maquinal e, pasmem, cansativo… Todos, creiam-me, adjetivos que já ouvi e já li sobre o rapaz durante minhas visitas pelos sites e programas especializados… Para mim como, aliás, é para Charles e muitos outros, o surf encaixado é bonito de doer…
    Pausa….
    No Surf Adventure 2, Sifu, com seu modo curioso de ver o mundo, fez uma declaração sobre as ondas do Leblon bastante arguta… Dizia ele: o Leblon possui a melhor onda do mundo para uma manobra, isto é, para o aéreo… Talvez um dos integrantes do extinto e excelente programa Sériesfecham estivesse, àquele momento, a subverter a lógica reinante para qualificar uma onda, sem nenhuma capacidade de igualar-se às melhores do planeta, como excelente… O movimento argumentativo, apoiado na metonímia, estendia-se para além das praias cariocas e, possivelmente, ambicionava explicar porque o surf aéreo é tão bem sucedido na nossa terra… Onda de uma manobra… consequência: surf acima da linha… Explicação convincente… Todavia, onda ruim, sem longas paredes também exige de quem, sobre a prancha, muita velocidade para aproveitar cada centímetro quadrado livre da espuma…
    Retorno…
    Surfar rápido e, portanto, bonito não é uma exclusividade de quem se alfabetizou com a língua falada nos castelos do norte do Reino Unido… Ainda que a base, vez ou outra, se encontre inconveniente aberta, muitos surfistas brasileiros, entre eles encontramos Alex Ribeiro, surfam como se não houvesse amanhã… Surfam como se tivessem aprendido que, sem velocidade e ritmo, a onda acaba e, com ela, a diversão… Quando essa consciência, encontra longas paredes… Bom… O que temos visto… um estrago…
    Além da surpresa da Costa Rica e do Francês que fala português com sotaque carioca, o menino da Praia Grande, quem conhece o lugar sabe, surfou além da média, bonito e rápido… Não é a primeira vez, não será a última…

Amanhã…  estarei no primeiro dia do Rio Pro… antes de embarcar para uma viagem de trabalho… tomara que a sequência continue a mesma….

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