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domingo, 19 de julho de 2015

JBay 2015... comentários esparsos...

    JBay em… 2015 não apresentou os dias épicos de outros carnavais… Mas, sejamos francos, essa onda em condições imperfeitas ainda é o melhor  do que o mar do ano no rio da minha aldeia… Para mim, quando o Tour pousa na África, estamos diante, perdoem-me Teahopoo, Pipe ou Fiji, da melhor vista da temporada… A bancada predileta de Shaun Tomson tem de tudo… surf de borda, tubo, longas paredes e, para os mais afoitos, a possibilidade de explorar o espaço aéreo… Não há viva alma que não aponte a baia como um dos endereços em que se separam os grandes dos medianos… Foi assim, é assim… e, suspeito, será assim por longos e rigorosos invernos…
    Por vezes, esquecemos que JBay possui mais tubarão por metro quadrado do que banhista no posto nove durante os meses de verão… O esquecimento, todavia, não resiste às inúmeras barbatanas que cortam as águas frias de um dos países mais bonitos do mundo… Na África do Sul, não há viva alma que não tenha visto um tubarão no outside…Todos têm uma história para contar… Nunca acreditei nelas, pois suspeitava de que se tratava de um recurso para afastar os visitantes das inúmeras e perfeitas bancadas daquele país… A juventude sempre oferece o perdão para inconsequência e ao sentimento algo prepotente de invencibilidade… Ainda bem que, em algum momento, envelhecemos e temos a oportunidade de assistir às histórias contadas tornarem-se verdade ao longo da vida…
    O fato é que não me lembro de saber de aparições de tubarão durante algum campeonato…, muito menos de etapas do Tour… Vasculho a memória, mas não consigo lembrar de algo semelhante ao que aconteceu com Mick nos primeiro minutos da final contra Julien… Não consigo… As imagens são impressionantes e já consigo ler nos fóruns daqui e alhures contra a etapa de JBay… Por pior que tenha sido o episódio, quase uma tragédia, não sejamos precipitados… Tubarões na África são como os corais do Thaiti, as cavernas de Pipe… Eles estão lá, eles estão lá… Ainda bem que o camarada, de grande caráter, está bem… Ainda bem que estão todos bem… Mas o mar tem dessas coisas… Para escapar de seus perigos, surf na etapa da Barra da Tijuca ou na piscina sonhada por Slater… Poderia ser isso, mas não seria mais o bom e velho surf… Quem já pegou onda alguma vez na vida atire a primeira pedra em quem nunca teve medo de encontrar um tubarão ou esfregar o corpo em coral afiado… Por sorte, o campeonato teve mais eventos do que esse… sobre eles, também devemos nos ater…



Aproximemo-nos…

    Feliz é quem tem a possibilidade de assistir, ao vivo, ao encontro de Mick e Kelly na segunda semi-final… A bateria do campeonato… Uma aula de surf de borda, de leitura da onda… A cada virada do placar, a certeza de que a vanguarda, logo após o seu surgimento, não deve, por irresponsabilidade, acreditar que o passado nada vale… Ele vale… e muito… Basta um pouco de atenção no que se passou nos minutos que definiram o segundo finalista para uma verdade revelar-se de modo inconveniente… Os maiores representantes das duas gerações que antecederam a tempestade brasileira estão vivos e muito ainda tem para ensinar… O ET… bom… O ET é o que sempre foi… a melhor leitura de onda de todos os tempos somada ao estilo mais bonito no circuito desde Curren… Quando Kelly e Tom se encontram no mesmo enunciado… é melhor calar… Vai surfar bem… lá, em Plutão…, planeta de onde ele dever ter vindo ainda menino para cravar endereço provisório na Flórida…
    Fanning, por sua vez, é o surfista que melhor encaixa uma manobra na outra entre todos os competidores do tour… exceção feita a Felipe Toledo quando as ondas estão abaixo de seis pés… A pressão do seu pé direito é tão forte que, mesmo com uma enterrada ou outra de sua borda, o fluxo da manobra não se interrompe e lá vai ele… para mais um esculacho… Desde os sinos, acho que o australiano está melhor do que nunca… Va lá… sempre tem alguém que afirma sobre o surf do camarada: robótico, cirúrgico… Para mim, qualquer surfista que ambiciona iniciar-se em competição, ainda criança, deve assistir, com humildade de aprendiz, as performances do rapaz boa gente… Que pena Irons não estar vivo… suspeito que ele adoraria, junto com os seus, ensinar alguma coisa para os mais jovens… O bom surf sempre entendeu o mar, buscou a linha prometida e o fez com rapidez e elegância…
    O resultado da bateria pouco me importa… qualquer um poderia ter levado…Com mais tempo, o segundo poderia ser o primeiro e o primeiro levaria o terceiro lugar na etapa… Taí… Quando Mick e Kelly se encontrarem em JBay sem vento e com tamanho digno… a bateria deveria ter uma hora de duração… Atrasaria o campeonato? Tira 10 minutos de todas as contendas de G. Hall ou de M. Banting… pronto, teríamos tempo…

Mineiro…

    "O surfista mais focado do Brasil…Aquele que merece, mais do que qualquer um nascido nessas veredas, ser campeão do mundo… O surfista brasileiro que mais evoluiu desde sua primeira temporada na elite…" Esses enunciados são comuns entre nós… Eu sou um daqueles que espero ver o dia em que Mineiro leve o caneco do Tour… Tenho muito respeito pelo filho dileto do Guarujá, pela sua postura e pela sua história… O camarada quer ganhar… Lembro-me de um vídeo no Thaiti… ele, há poucos metros de Slater… Ainda não havia ganho o respeito, conquistado nas últimas temporadas, de seus pares e, diga-se a verdade, estava distante de ser um dos pleiteantes ao título… Discorria sobre o seu surf, a sua evolução… ao fim… com um sorriso no rosto, afirmou algo mais ou menos assim: eu quero é dar um tapa naquela careca… O tom não era de desrespeito tampouco de prepotência… Adriano apenas não parece ter ídolos e, por isso, acredita ser sempre possível chegar lá… O fato… ele chegou… Se tiverem oportunidade, assistam aos vídeos do primeiro ano no WCT e os compare com as últimas aparições de 2015… Adriano cresceu muito e se tornou, para valer, um sério candidato ao sonhado título de campeão mundial…
    O problema é que a camisa amarela lhe foi oferecida, por mérito e competência… Administrar a liderança é muito diferente do que chegar a ela… Até agora, Adriano serviu-se de todas as armas disponíveis… Contratou Peterson Rosa para acompanhá-lo em algumas etapas, organizou a sua rotina de treinamento a partir de uma planilha espartana encontrada, por uma escavação arqueológica, na península balcânica, passou uma temporada no arquipélago e fez final em Pipe… Tudo, realmente tudo, ele fez para liderar o ranking… Contudo, o primeiro lugar chegou e com isso um peso, com densidade inesperada, parece ter caído sobre seus ombros… Adriano tem surfado diferente desde que precisou se transformar naquele que todo mundo persegue…
    Eu, se é que posso sugerir algo, mudaria a minha estratégia e buscaria ajuda em outras veredas… Mas quem, de fato, poderia orientá-lo nesse momento… Apenas uma pessoa parece-me apta a ajudar Adriano nesse momento… E, por mais estranho, o nome de Charles, pai do Gabriel, surge sem ressalvas… Por que? Ora, Charles é o único treinador brasileiro que tem a experiência de liderar e manter o seu atleta na ponta do Tour… Houve o problema em Portugal, é verdade… Mas houve Pipe em seguida… e aguentar aquilo não deve ter sido tarefa fácil…Charles blindou Gabriel de tudo e de todos durante os momentos mais difíceis que tiveram em 2014… Porque Medina não tem mais chance nesse ano, o olhar de Charles, com anuência do atual campeão mundial, poderia voltar-se para Adriano… Afinal, Mineiro precisa aprender a ser líder… Ele não pode, não ele, deixar novamente a onda da série passar, no final da bateria, com a prioridade na mão… Isso não…

Felipe, Alejo e Gabriel…

Felipe é jovem… verdade… Até agora, não acho que ele perdeu aquela bateria para Alejo… Se mares de seis pés são decididos por ondas da série… Ora, basta pegar as maiores… Atletas de alto rendimento sofrem durante o seus percursos, de modo desigual, a influência de elementos externos, os quais nem sempre tem consequência positiva… Ouso afirmar que nenhum surfista brasileiro, até agora, vivenciou a aceitação que o filho de Ricardo alcançou entre seus pares nas primeiras etapas de 2015… Confiança, a consequência… Confiança demais pode ter provocado no camarada a suspeita que venceria, mesmo com as intermediárias… Para mim venceu, mas eu não decido… Se quiser ganhar, tem de ser incontestável… nas ondas maiores… o resto, Felipe tem de sobra…
    Alejo tem um surf que lembra Jeremy, mas uma índole que evoca a de Fanning… Estamos diante do surfista brasileiro em atividade mais bacana entre todos… Sempre sorriso no rosto, sempre querido pelos amigos… O seu surf evoluiu muito em um ano, mas não acredito que ainda se encontre pronto para ficar entre os dez melhores… Torço muito pelo seu surf de borda e pela sua agressividade contra a parede lisa da onda… mas ainda há um longo caminho a percorrer…As quartas de finais constituem um aviso… há uma grande barreira para romper… Espero que consiga…
    Gabriel, por sua vez, não conseguiu ainda superar o quinto lugar em 2015… Tudo bem… Perdeu com dignidade para Slater e… um ano ruim não implica nada além disso. Gabriel é o meu favorito sempre… Se não deu agora, dará na próxima… Aprendi a não duvidar do rapaz… 

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